Abrir o nosso coração a Deus
Querida Filha em Jesus Cristo!
Como? Você não sabe explicar o que seja a oração? Quero crer que esteja brincando!… Mas, de qualquer forma, não posso deixar de atender o seu pedido. Oração é o que há de mais sublime na Religião: é uma elevação da nossa mente e do nosso coração ao Céu; é uma conversa íntima com Deus; é a união da criatura com o Sumo Bem; é a ocupação dos Anjos no Céu, permitida aos homens na terra; é a vida do Céu iniciada aqui. Na oração elevamo-nos acima de tudo o que passa, e o colocamos debaixo dos pés; com ela conscientizamo-nos de que só Deus é tudo; entregamo-nos a Ele, derramamos nosso coração no Coração Dele, para não amar e servir senão a Ele, para não viver senão por Ele.
Haverá algo de mais sublime e, ao mesmo tempo, mais necessário do que a oração? “Se a minha meditação, diz Davi, não fora a vossa santa Lei, ó meu Deus, eu teria talvez perecido na minha miséria. Jamais deixarei de meditar nos vossos preceitos, pois é neles que está a fonte da vida.” De fato, só a meditação pode manter viva em nós a fé nas grandes verdades da Fé, na importância da salvação eterna, na santidade dos nossos mistérios, no cumprimento dos deveres, sem o que não é possível alcançar a salvação eterna. Só a oração pode preservar dos maus hábitos, do relaxamento, do abandono sucessivo das práticas de piedade; e afastar das ilusões sobre o estado da própria consciência, em que se pode facilmente cair. Somente a oração pode formar e manter em nós o espírito de humildade, de mortificação, de caridade, de mansidão, de todas as virtudes necessárias à salvação eterna.
S. Boaventura diz: “Sem a oração não há progresso na virtude.” A oração, minha filha, não é somente necessária, é também infinitamente útil, pelas graças de que é fonte. Por meio da oração, conhecemos a Deus e saboreamos o seu amor; alimentamos sentimentos de horror ao pecado, o desprezo das coisas do mundo e de nós mesmos que gera a humildade, afugenta os vícios, leva-nos a praticar a virtude com pureza de intenção em todas as ações, e desperta em nós o respeito pelas coisas santas e a caridade para com o próximo.
Interpelemos as pessoas santas que a praticam habitualmente como convém, e elas nos dirão que, graças à oração bem feita, gozam de momentos felizes, de momentos de paraíso na terra. Imitemo-las, minha filha, e participaremos de sua felicidade.
Lembre-se, porém, que é preciso esforçar-se para manter a consciência pura e dominar as paixões; pois quem não quiser sacrificar-se e melhorar o próprio comportamento não pode esperar bons frutos desse santo exercício.
Não se esqueça, minha filha: quem não quiser desapegar-se das coisas terrenas, não poderá elevar seu espírito para o Céu. É preciso buscar de fato a intimidade com Deus e romper absolutamente com a vida dissipada, que se perde em pensamentos inúteis, em distrações, e concede facilmente à natureza sensível tudo o que ela reclama. Viver o dia todo distraída e recolher-se na oração são coisas incompatíveis.
Eis, portanto, satisfeito o seu desejo; se algum aspecto permaneceu obscuro, escreva-me, que procurarei esclarecer a dúvida.
Deixo-a no Coração Sacratíssimo de Jesus; e, abençoando-a maternalmente, bem como as suas Coirmãs, fico no Senhor.
Sua afma Madre